miércoles, octubre 10, 2007

Mocinho, bandido? Nada disso...

Não quero virar setorista do Roda Viva. Mas duas semanas depois, outra entrevista interessante: José Padilha, diretor de Tropa De Elite.
Não vou de novo dizer o que achei do filme, isso já foi falado aqui. Vou dizer que o grupo de entrevistadores exemplifica bem o que a crítica brasileira tem feito com a obra: análise superficial e ingênua.

Padilha teve argumentos para todas as perguntas, mostrou que conheceu traficantes e oficiais do Bope e recebeu até dicas para as cenas. Mas o melhor foi a alfinetada: para ele, a crítica brasileira está incomodada com um filme intenso, de ação, feito para pensar. Porque não está acostumada a obras nacionais deste tipo. Para o diretor, a imprensa daqui só entende franceses de narrativa morosa que convidam o espectador à reflexão. Daí um dos motivos de o acusarem de fazer um filme fascista, diz ele.

Bem articulado, Padilha teve que explicar sua obra. O que é, no mínimo, péssimo. É como ter que explicar uma piada, só que elevado a enésima potência. Obras de arte não se explicam, se interpretam. Melhor ainda se causar diferentes reações e interpretações. Mas, com boa vontade, falou o que está explícito no filme: o endeusado (pelo público) e criticado (pela imprensa) Capitão Nascimento é um cara em crise o tempo todo, com síndrome do pânico, que percebeu que sua escolha não foi feliz, pois não consegue ficar com a mulher e o filho e precisa sair do Bope. Mas vive um dilema, aquilo é a vida dele. Ele é torturador. Ele é manipulador. "Lembram da cena em que o Neto é enterrado e ele diz que pode usar o ódio causado no Matias pela perda do amigo? Como podem achar que ele é herói?"

Há quem ache que ele não foi profundo e não sabia onde queria chegar com o filme, como o amigo, jornalista e blogueiro Marcelo Costa. Mas o próprio Padilha explicou no Roda Viva: queria incitar o debate a respeito do que gera tanta violência: o tráfico de drogas. Ele diz ser a favor da descriminilização. Quis, com seu filme, apontar os produtos sociológicos que o tráfico criou, além da brutal violência e o alto número de mortes. Em que pé chegou o Rio de Janeiro para precisar de uma tropa como o Bope?, pergunta, lembrando que a tropa já nem é tão de elite assim, pois agora está com mais de 400 integrantes e deixou de ser aquela seita quase impossível de entrar.

O cineasta não acredita que a miséria por si só crie tanta violência. Citou outros países com índice de pobreza maior do que o do Brasil, mas com números consideravelmente inferiores no quesito crime. Para ele, há alguns agentes transformadores que, aliados à miséria, criam 'a guerra' em que vivemos. Um deles é usar a violência para combater a violência. Entrou até em discussões filosóficas e semânticas sobre o significado da palavra 'guerra', talvez para mostrar que está longe de ser ignorante, mas isso já não cabe aqui.

O diretor teve que dizer para os pensadores brasileiros que o principal personagem do filme não é Nascimento, mas André Matias. Teve que explicar que a película não é maniqueísta (começa com a frase do psicólogo Stanley Milgram, que diz que o indivíduo escolhe os caminhos que vai seguir pela circunstâncias em que se encontra.)

Mas o que Padilha esperava? Seu filme dá um tapa na cara da elite brasileira. A mesma que escreve e opina sobre sua obra. (até eu, para meus três leitores). Os formadores de opinião frequentaram faculdades cheias de playboys maconheiros ou foram um deles. Ou são um deles. E a imprensa (agora já não sei se me incluo ou não) tem a necessidade de arrumar rótulos pra tudo o que aparece e ela não consegue explicar em três palavras. Ou, só para citar um exemplo, alguém aí se esqueceu do fenômeno Nirvana no começo dos anos 90 e do rótulo grunge, que significa... absolutamente nada?

3 Comentarios:

Blogger db dijo...

sao poucos os jornalistas que nao fazem parte da elite. e eu deixo claro que nao faço parte desta minoria...

7:21 a. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

pois é, qdo terminei de assistir o filme pensei justamente que liberar as drogas seria um ponto final nesta bandalheira.

8:48 p. m.  
Blogger Márcia dijo...

Ok, ok, ok.. quem vai ser a boa alma que me vai mandar este filme?

12:42 a. m.  

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