martes, febrero 19, 2008

Coloninha

Termino o almoço em que saí sem beber porque o que pedi não chegou e passo no mercadinho pra comprar um chá gelado. Vou ao caixa. "R$ 1,98". Dou uma nota de dez reais e, enquanto recebo o troco, escuto: "Posso ficar devendo dois centavos? Não tenho moeda de centavos", diz, com um sorriso simpático, aquela senhora gorda e negra. Estereótipo que a Globo adorava colocar na novela das oito, a cozinheira que vivia a vida da família. De uns tempos para cá eles mudaram um pouco. Da senhora negra e gorda, passaram pra empregada gostosa, que qualquer macho gostaria de ter em casa. Mas enfim...

Voltando: eu devolvi, com o mesmo sorriso (acredito que simpático, pelo menos eu tentei): "Então peça pro patrão mudar o preço pra R$ 2 de uma vez. Aí facilita pra todo mundo." E ela, de bate-pronto, ainda com aquele sorriso, ainda mais segura: "Não é só o patrão, todo mundo faz isso." O dono do mercado, dois metros ao lado, nos escutava, mas permaneceu imóvel.

Pois é. Agradeci e vim bebendo meu chá pelas ruas do Itaim Bibi (em que vemos uma criança pedindo esmola a cada esquina em que há um Jaguar parado em fila dupla para ir a restaurantes como o Parigi).

Porra, não precisa ser expert em marketing para saber que a tática do preço quebrado é para fisgar o consumidor psicologicamente. E funciona. A pessoa acha que está pagando menos, acaba decidindo comprar porque se ilude com o preço, etc. Se ainda fossem R$ 299, R$ 799, R$ 10.998... Mas 1,98? Ela nunca vai ter os dois centavos. Quantos dois centavos o patrão dela ganha de todo mundo? E se eu desse 1,90 e pedisse pra "ficar devendo" oito? Ela aceitaria? Claro que não.

Ah, mas tudo mundo faz, então pode. O governo tem centenas mamando com cartão corporativo? Ah, mas o governo do FHC também fazia isso, então pode. Deputado recebe pra votar? Ah, mas todos fazem isso. Onde vai parar este lugar? "Pode parar o carro em fila dupla, todo mundo faz isso." "Pode dar um dinheiro pro guarda, todo mundo faz isso." "Fure a fila, é comum." "Troque de faixa sem dar setas, ninguém faz isso." "Ah, todo mundo joga lixo pela janela do carro, então vou jogar." "Todo mundo entra no metrô antes que as pessoas que estão dentro saiam, então foda-se."

Este é o país em que ter falta de personalidade virou desculpa pra tudo. Se todo mundo faz, posso fazer também. Aliás, muitas vezes o "todo mundo" são três pessoas. O que importa é ter desculpa para o comportamento escroto.

É cultural e, vendo este tipo de postura, não tenho esperanças de que nada vá mudar. Não seremos mais civilizados do que somos. O pior do Brasil é o brasileiro, que não quer mudar o estilo de ser do "jeitinho".

Depois de lamentar a Revolução Farroupilha não ter dado certo, tenho que lamentar o fato de a Invasão Holandesa ter ficado apenas em Pernambuco.

3 Comentarios:

Blogger Márcia dijo...

Si eu te dissesse que no México é pior, te alegraria o dia????

3:18 p. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

ah se no México é pior então noBrasil pode.

6:27 p. m.  
Blogger db dijo...

holandeses e franceses incompetentes!

8:42 p. m.  

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