viernes, abril 18, 2008

Em algum Texas do mundo - Parte 2

Sozinho no mundo desde que a mulher morreu, Jair havia recebido alguns meses antes a notícia do médico: estava com câncer no pulmão, já havia entrado em metástase e teria mais sete ou oito meses de vida, no máximo. O médico até disse que poderia tentar cirurgia ou tratamento. Mas as chances de cura eram de 0,5%, no máximo. Como ele fez o cálculo Jair nunca perguntou.

Desenganado, aquele velho homem do interior já não tinha motivos para lutar pela vida. Sozinho no mundo, aposentado, com poucos amigos, transformara-se num zumbi desde que sua filha fora seqüestrada aos dois anos de idade.

Ele e a mulher viveram 19 anos atrás dela. Até que um infarto levou embora Eulália e ele ficou sozinho na busca. Busca que já não acontecia de maneira concreta. Havia se transformado na esperança de que ela um dia pudesse aparecer. Eulália repetia: “Ela nem deve lembrar nossos nomes. Não sabem quem é. Fizeram a cabeça dela, ela pode não saber que foi seqüestrada, era muito pequena...”

Do outro lado, Helena cresceu em uma família de descendentes europeus. Estudara em uma escola de burgueses em uma cidade grande, mas sempre achou os pais frios demais. Sentia falta de carinho. Ainda no primário percebeu que havia algo errado. Os pais, loiros de olhos azuis, não tinham nada a ver com ela fisicamente. As amigas do colégio perguntavam. Os meninos tiravam sarro.

Perguntou então para Helga e Otto, que desconversaram. Disseram que os amigos só queriam importuná-la. Mas ela cresceu com a dúvida. Quando chegou aos 18, fase em que já fumava e bebia até cair em festas, estava no auge da rebeldia adolescente, descobriu uma pasta guardada a sete chaves num fundo falso do guarda-roupas do quarto dos pais. Lá dentro estava o documento que comprovava: ela fora adotada de uma instituição quando tinha quase 3 anos.

Revoltada, esperou os pais chegarem da viagem, colocou-os na parede. Negaram até o final, como quem é flagrado nu com alguém na cama e jura que não estava fazendo sexo. Mesmo assim, ela esfregou o papel na cara dos dois. Pegou a mala, já arrumada, e caiu no mundo.

Enfiou-se na casa de uma amiga por uns tempos: bebia ainda mais, consumia drogas e abria as pernas para qualquer um. Um belo dia, após fumar uma bucha com o Marcão, amadureceu a idéia de ir atrás de seus verdadeiros pais. Guardara o nome da instituição em que seus ‘pais’ a adotaram. Foi para lá, fez perguntas, levantou os registros. O arquivo dizia que o homem que havia deixado a criança para adoção chamava-se Lúcio Javanelli, um homem que morava em outro estado, numa cidadezinha.

Partiu atrás, crente de que Javanelli era seu pai. Emocionada, não sabia se o xingaria pelo abandono ou se buscaria abrigo em seus braços. “Pode ser que ele não tivesse condições financeiras para sustentar uma criança, não posso julgá-lo”, ponderou, enquanto viajava de ônibus para o interior.

Desceu na praça principal da cidade, convicta de que não seria difícil encontrá-lo. Perguntou para algumas pessoas, que não entendiam porque alguém o procurava tanto tempo depois. “Moça, o Lúcio morreu faz tempo.” A notícia a atingiu como um choque. Como assim, depois de tanto tempo procurando, não ia conhecer seu verdadeiro pai? “Mas se a moça quiser, eu mostro onde mora a viúva, a dona Jandira.”

Tremendo e com passos frouxos, Helena seguiu o homem por alguns metros: “Tá vendo aquela viela ali? Vira à direita nela e no final à esquerda. É a única casa amarela que vai ver.”

Lá foi Helena sem saber direito o que ia falar para a mulher. “Seria minha mãe?” Realmente era a única casa amarela que viu. Parecia ter sido pintada com gema de ovo... Bateu na porta e escutou passos arrastados virem até a porta. “Boa tarde, moça. Posso ajudar?”

Continua...

6 Comentarios:

Blogger FAFÁ dijo...

Não vai me dizer que Helena é a Tracy????

2:45 p. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

Argentino agora sério, pq vc não pensa em ser roterista?

2:45 p. m.  
Blogger db dijo...

nao, porque odeio coisas que ficam com fim pendente

8:16 p. m.  
Blogger Camila dijo...

sacanagem. continuação tem que ser no dia seguinte, não no ano seguinte! cadê o resto?? :-(

5:43 p. m.  
Blogger http://foradacurva.zip.net/ dijo...

Eu não leio seu blog, mas gosto de tudo o que você escreve

8:01 p. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

aêêÊ rolou um clima aqui hein?

6:46 p. m.  

Publicar un comentario

Suscribirse a Comentarios de la entrada [Atom]

<< Página Principal