martes, mayo 13, 2008

"Oh, well, whatever, nevermind...."

Juliano era um cara fechado. Fechado mesmo. Mas não falava pouco. Ele era fechado quanto às questões pessoais, seus mais profundos sentimentos e segredos. Porém em rodas de conversas era extremamente sociável. Conversava, ria, brincava. Dava opiniões, mas sobre três assuntos ele não se abria: família, trabalho e seus amores.

Acreditava que aquilo lhe pertencia e ninguém tinha nada a ver com sua vida. Nem com a própria família ele falava. Sua mãe queria saber o que passava por sua cabeça. Afinal, ele tinha 27 anos e ninguém sabia se estava feliz ou deprimido.

Quieto, sonhava com o dia em que poderia sair na rua sem que alguém o conhecesse. Não queria ter que cumprimentar ninguém. Adorava o anonimato, mas não o anonimato das salas de bate-papo da internet. Não tinha nada de voyeur. Ele só queria sossego.

Na hora do almoço, buscava sempre comer sozinho e ia para as mesas do canto dos restaurantes em que ninguém da sua empresa aparecia. Era amável com os garçons, garfava enquanto via TV.

Cansada de não saber o que ele pensava, a mãe, Edília, resolveu recebê-lo com uma saraivada de perguntas no dia do seu 28º aniversário. Comprou um bolo e o esperou no sofá. Não haveria festa, claro. Perguntou se o filho se sentia rejeitado. Perguntou se gostava da comida dela, perguntou se gostava do emprego, perguntou se era gay.

Juliano negou tudo, sem esforço. Deixou a mãe falando, pegou a mochila, saiu. Utilizou-se de um dos mais velhos clichês: passou na padaria, comprou cigarro e nunca mais voltou.

Seu quarto seguia intacto. Edília ainda esperava o filho voltar, cheia de culpa. O pai, a cada trago no cigarro, dizia que o filho era “vagabundo” e ingrato.

Três anos e meio depois, a mãe, maltratada pela tristeza, já com o rosto tomado pelas rugas, recebeu uma carta. A letra era de Juliano. Abriu-a correndo, quase rasgando seu conteúdo. Dentro, um bilhete, com uma foto:

“Mãe, vim pro Canadá. Casei com a Débora, aquela namorada que tive aos 17 anos e você odiava. Este é nosso filho. É só para você saber. Nunca mais vou voltar.”

O pai, que lia a carta sobre o ombro da mulher, saiu espumando, negando ao filho como um ateu nega a Jesus Cristo. A mãe, chorosa, abriu um sorriso. Foi a primeira vez que Juliano demonstrou algum sentimento e lhe disse o que estava pensando.

2 Comentarios:

Blogger db dijo...

gostei. belo e inspirado final

5:56 p. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

bravo! gostei!

10:06 p. m.  

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