viernes, septiembre 08, 2006

História de um anjo

Faltava meia hora para a rodada. Alguém tinha que fazer o serviço sujo e buscar a comida. Afinal, aquele bando de loucos precisava se alimentar enquanto trabalhava. “Vou descer, alguém quer alguma coisa?” Mãos, listas e tíquetes apareciam ao mesmo tempo.
Quase sempre por último aquela garota de olhos claros esticava a mão com um sorriso lindo e maroto e pedia o de sempre: “Traz dois brigadeiros e uma coca, por favor?”

O tíquete era de R$ 4 e naquele tempo dava até troco. Depois de um tempo foi comum perceber que ela mal comia. Por isso mesmo nunca deve ter ficado cem gramas acima do peso ideal.

Aquele olhar e sorriso eram especiais. Aliás, aqueles olhos eram tão misteriosos que valeram um estudo para descobrir: azuis ou verdes? O diagnóstico: depende da luz.

Isso é a cara dela. A cara dela porque ela não era uma pessoa comum. Não se encaixava em padrões ou rótulos. Estava muito acima de maniqueísmos, fofocas ou intrigas.

Parceira, topava ajudar todo mundo, até cobrir jogo de futebol no plantão para que os meninos dissimulados não precisassem trabalhar 12 horas no sábado. Jogo do Guga então, nem precisava pedir. Ela se oferecia.

E obedecer ordens dela então? Era muito competente, mas não dava uma bronca. Parecia uma zenbudista em um meio formado, em sua maioria, por neuróticos e arrogantes.

Itinerante e complexa. Andou por aí. E nas andanças do mundo, voltou para São Paulo. Aquela parceria voltou a acontecer anos depois no prédio ao lado de onde começou. Inteligência e doçura. Independência. A menina-mulher resolvia tudo sozinha. Sentia-se mal ao pedir favores, ela nunca precisava de ninguém.

Os almoços eram quase sempre no mesmo lugar. Os papos podiam variar ou não. Aquela rotina fazia bem. Sempre surgia a inspiração para alguma coluna de sexo. Ótimos textos.

Para fechar, café com bolinho de chuva no Garfus. Ah, e se não tivesse o bolinho de chuva? Ia até embora. O café era só um detalhe.

Aquela andarilha alegrou , ajudou e ensinou. E deixa saudades, muitas saudades. Ela tinha razão. O roteirista não quis ajudar. Eu prefiro achar que ele não existe. Se existir, vou demiti-lo assim que o encontrar.

4 Comentarios:

Blogger db dijo...

pode até demitir, mas nao esqueca que sempre tem um produtor executivo ou editor de porra nenhuma para encher o saco. apesar da demora para atualizar, gostei!

1:36 p. m.  
Blogger FAFÁ dijo...

você pode até não acreditar, mas que ela vai ajudar a melhorar o roteiro em outra esfera, ah isso vai!
Belo texto, demora para atualizar mas compensa!

9:51 a. m.  
Anonymous Anónimo dijo...

Mas você já pensou no quanto o roteirista investiu e permitiu que ela criasse, mesmo que todos esperassem por mais? Não é complexo de Polyana, mas colocar a saudade das coisas boas acima da raiva... Anyway, o texto é lindo.

5:08 p. m.  
Anonymous Anónimo dijo...

Ninguém melhor q vc para escrever sobre a passagem - rápida, mas intensa - dela por este mundinho insano.

3:54 p. m.  

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