lunes, octubre 23, 2006

Um copo de realidade - Parte 2

Dava a bunda umas três vezes por semana. De vez em quando falava para Mariazinha, sua namorada, que ia jogar bola com a “rapaziada”.
Na maioria das vezes procurava o Jorjão, que trabalhava no boteco da Rua do Torto, que ficava a umas quatro quadras da casa dele e a sete da Mariazinha.

Esporadicamente ia com o garçom, se é que ele podia ser chamado assim, já que passava o dia botando cachaça no copo de vagabundo, para um beco próximo. Escuridão, ninguém via nada. Valdir podia virar Gertrudes ali. Era uma boca mal freqüentada (existe boca bem freqüentada?) e deserta. Ninguém fiscalizava ninguém. Putas, travecos e traficantes trabalhavam sob a fraca luz dos postes.

Mas Valdir gostava mesmo era de ser enrabado nos fundos do bar, depois que as portas do “estabelecimento” eram fechadas. Valdir era fétido e sabia disso. Gostava do cheiro de rango azedo que impregnava aquela espelunca. Arroz, frango no chão...e o Jorjão pingando suor nas costas dele.

Em uma noite de calor, o namorado de Mariazinha saiu de casa com a sacolinha da chuteira na mão. Ainda passou na casa da garota para “dar um beijo”.

E partiu, ansioso e excitado, como sempre ia a caminho do boteco. De vez em quando, Valdir pedia ou pagava para algum travesti penetrá-lo. Na verdade pagava mais para garantir que o “quase mulher” ia ficar quieto depois. Mas o negócio dele... bem o negócio dele era o Jorjão.

O que Valdir não sabia é que, desta vez, Mariazinha o seguia, pois andava desconfiada de que o namorado tinha outra. Eram muitas desculpas esfarrapadas, sumiços repentinos. Ele estava jogando futebol demais, pensava a jovem, que trabalhava vendendo roupas numa loja.

Saiu um minuto atrás, à espreita. Seguiu Valdir de fininho. Logo percebeu que ele fazia um trajeto diferente. O campo de futebol do “Armarinhos Atlético Clube” ficava em outra direção. “Desgraçado!”, sussurrou. “Sabia que ele tá de rolo com alguma vadia!”

Espumando de raiva, Mariazinha quase colocou tudo a perder quando tropeçou em um balde. Ela tinha apertado o passo e não enxergou. O chute na lata fez barulho, mas neste momento Valdir estava virando a rua e não deve ter escutado. Ela despertou do segundo de cólera. “Tenho que ver quem é esta piranha, tenho que ver!” Queria flagra-lo no ato. “Aí ele não vai ter desculpa!”

Após quase dez minutos de agonia e ansiedade no calor na frente do bar, a mulher entrou. Mas não tinha coragem de ir rápido. Passo a passo, se aproximava do que não queria ver. Por um segundo, pensou em desistir: “Minha família gosta tanto dele...” De repente, ouviu um urro. Era de Valdir. Mais alguns passos e percebeu que os gritos secos vinham do quartinho do fundo. Colocou o rosto ao lado do batente da porta e ficou pálida. Não acreditava no que via. Valdir urrava grosso, mas estava de quatro, com Jorjão engatado atrás. Os dois negrões, Jorjão com mais de 1,90m, faziam cara de esforço. Mariazinha sentiu-se mal. Muito mal. Uma força veio de dentro de sua alma. Vomitou com força, deixando aquele local ainda mais fétido. O mal estar da moça despertou o casal de trogloditas, que interrompeu o ato.

Valdir foi acudir Mariazinha, que a essas alturas não sabia se limpava a boca ou enxugava as lágrimas. Ela correu para fora do bar. “Que nojo!” “Seu viado!” “Eca”, foram algumas das palavras que Valdir escutou a namorada berrar algumas vezes naquela escuridão. “Não encosta em mim!”, sentenciou. “Você vivia dizendo que queria pôr no meu, mas queria era dar!” AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!

“Mas, Mar.., mas... péra.....Mariazinha....calma....você precisa entender... “Entender o quê? Que é mais moça que eu? Que é uma bicha fedida?”

“Não, meu amor. Fiz isso por nós. Lembra que eu vivia dizendo que queria experimentar? Você disse que devia doer muito e não queria, lembra? Lembra?” Mariazinha respirava profundamente, ansiosa. “Hummm...” “Eu fiz isso para entender se dói mesmo. Pra aprender a fazer com jeito e não te machucar, meu bem!”

“Ah, é? Então por que você estava chupando a piroca do negrão na semana passada, quando fiquei espiando vocês pela janela, e você pediu para ele gozar na tua cara? Era pra saber se nosso filho vai engasgar na hora de mamar???????????????”