viernes, noviembre 03, 2006

Um copo de realidade - Parte 3

"Às vezes me sinto como um Forest Gump, correndo sem saber o motivo nem o destino. O problema é que, quando paro para pensar, não interrompo a corrida. Mais do que as pernas e os pulmões, esta corrida cansa a cabeça."

"Então, por que não pára?"

"Não consigo. Há alguma força me empurrando."

"Que força?"

"Sei lá. Acho que a força da inércia."

"E inércia tem força?"

"Sei lá, porra. É algo que me empurra, sem eu saber se deveria ir. Mas algo que me faz não parar, não pensar...Acho que vou porque quero encontrar a verdade."

"Que verdade?"

"A verdade da vida. Um significado, um sinal. Uma luz, um túnel, um sorriso, um cheiro, alguém, uma bola correndo...."

"Uma porta se fecha, mas se outra se abre. Esta é a vida."

"Simples assim? Pra mim, é muita ingenuidade. É como acreditar em maniqueísmos. Isso aqui é tão complexo que há 300 versões pro surgimento de tudo."

"Mas a gente tem que aproveitar a caminhada pro monte Everest sem pensar muito no que vai acontecer."

"Mas eu não consigo! Não dá pra desligar, não programar."

"Se aproveitar a situação para fugir, não vai aproveitar."

"É como se ela estivesse à espreita o tempo todo, na surdina, esperando um momento qualquer para dar o bote. Dá pra viver com alguém te vigiando, o tempo todo sendo sua sombra?"

"Mas quem pode querer te acompanhar o tempo todo?"

"Alguém que está para mim, que veio por mim e que é exclusivamente minha, só minha."

"Quem?"

"Alguém que....que...devo respeitar, conviver... quem sabe gostar e até idolatrar. Porque nunca ninguém a tirará de mim. Um dia ela virá para mim, só pra mim. Nunca vai me trair. Não vai me faltar. Preenche todos meus desejos de posse, exclusividade e atenção. Ela é só minha, é certa, ela virá pra mim."