jueves, febrero 05, 2009

O dia em que cancelaram o Carnaval

Por conta da crise econômica, o governo brasileiro decidiu que não haverá Carnaval neste ano. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o momento não é de festa, mas de reflexão, por conta da onda de demissões e da queda da produção e, consequentemente, do faturamento da indústria nos últimos meses.

A previsão de um PIB pífio também foi citada pelo presidente como motivo para que sugerisse uma meditação geral do país durante o feriado.

A notícia surpreendeu todos os setores da população e causou até alguns suicídios, em quadras de escola de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O Brasil parou. e 30 de janeiro transformou-se no 11 de setembro da terra tupiniquim.

Frases e fatos marcaram o dia do anúncio do presidente em todo o país:

- Carnavalescos, aos prantos, conversavam nos barracões das escolas, embriagados e raivosos quando um deles bradou: “E agora? Vou ter que arrumar um emprego aos 54 anos!”

- As marcas de cerveja demitiram 80% dos ‘colaboradores’ dos seus departamentos de marketing. Alguns profissionais defenestrados, em represália, incendiaram as instalações dos camarotes e depois foram para suas casas de veraneio, em Angra (RJ) e Riviera de São Lourenço (SP) tomar calmantes com champagne;

- Nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro, piqueteiros pararam o trânsito, queimando as fantasias que montaram ao longo de 10 meses;

- Bicheiros e traficantes do eixo Rio-São Paulo aproveitaram o saldão das Casas Bahia e compraram diversas máquinas de lavar. Kia Joorabchian, ex-MSI, foi contratado como consultor pela Mangueira;

- Em Salvador, a notícia parece não ter chegado. A população correu atrás de trios elétricos sem som no circuito Barra-Ondina. Perguntado sobre a determinação do presidente, um dos foliões respondeu: “Oxi! E se não tem Carnaval, o que vamos fazer? Trabalhar, é?”

- As rainhas das baterias das escolas de SP e RJ, preocupadas com a notícia e a possibilidade de a crise econômica mundial durar anos e acabar com o Carnaval, começaram a preparar seus currículos e distribuir em casas de maturação: “Cantora, dançarina, atriz. Anal, oral, vaginal, sem limites e sem camisinha”;

- Em Recife e Olinda, os foliões derreteram os bonecos e misturaram com garapa para dar o que comer a seus filhos. Alguns, mais revoltados, resolveram sair dando tiros pela rua, colocando Recife de vez no topo do ranking de cidades com maior número de assassinatos com armas de fogo do Brasil;

- No Rio Grande do Sul, o clima era diferente. Entrevistados nos aeroportos, gaúchos disseram que a crise é uma coisa do Brasil e do mundo, mas não vai afetar os pampas;

- Jornalistas de todas as redações do país ligaram para a Riotur e mandaram as porcas assessoras enfiarem as duas míseras credenciais concedidas no cu (e com areia);

Uma semana após o anúncio ocorreu o fato mais surpreendente: federações e sindicatos de indústrias e empresas, de primeiro, segundo e terceiro setores, decidiram que o Carnaval não será feriado e todos trabalharão em expediente normal. A notícia bombástica foi divulgada em rede nacional no horário nobre, minutos antes da novela das oito. No dia seguinte foram confirmadas, por infarto, as mortes de Tobias, da Vai-Vai, e Joãosinho Trinta, o famoso carnavalesco que já havia sofrido dois AVCs em 2006.