sábado, diciembre 23, 2006

A Farewell to Kings - Parte 2

O barulho da chuva lá fora ele nem escutava. Bebia goles de vinho, sozinho, e lembrava tudo o que não fez. Sentia-se arrependido de não ter tentado mais uma vez. Tentado mais uma vez tudo. A carreira que sonhou. O abraço que não ganhou. O beijo que não deu. Ele sempre achou que este dia nunca ia chegar, mas chegou. Sentia-se velho e cheio.

Não era mais o moleque que mudaria o mundo. Não era mais o moleque que encarava tudo de frente. Que fazia questão de chocar e de contrariar, principalmente os mais velhos. Agora era um dos mais velhos. Estava em sua vidinha regrada, sem fortes emoções, sem grandes acontecimentos. Sem percalços, sem aventuras.
Bebeu mais uns goles de vinho. Tentava entender como chegou ali daquele jeito. Odiava o que havia se tornado. Não queria ser quem era, mas, tomado por apatia, mal conseguia se mover.

Palavras que não disse, agora elas já se foram. As palavras e as pessoas que deveriam escutá-las. Queria encontrá-las de novo. Mas será que encontraria? O que haveria do outro lado? Haveria outro lado?

Mais meia taça de vinho, só pra relaxar. Por que não foi atrás dos sonhos que tinha? Achava que a resposta era medo. Sentia como se em todas as bifurcações da vida tivesse escolhido o lado errado. Com a agravante de que a vida é um carro sem marcha a ré. E o carro, pelo menos o dele, não tinha tração nas quatro rodas.

Restavam apenas uns dois goles de vinho no fundo da garrafa quando sua mulher bateu na porta do quarto. Perguntava se estava pronto, era hora de ir para a casa da sogra passar a ceia de Natal. Ele teria ficado irritado, pois nunca acreditou na "maldita festa em que todos torram dinheiro sem saber o motivo." Teria, mas àquela altura já havia injetado tanta heroína na veia que não conseguiria escutar a mulher...o ateu estava pronto para reclamar com Deus.

martes, diciembre 12, 2006

A Farewell to Kings - Parte 1

“Oi, tudo bem?”

“Tudo e vc?”

“Tudo indo... estou chateado... soube do Jaílson?”

“O Jaílson? Não... O que tem?”

“É...hmmm...Leia isso:”


"Fui embora porque cheguei à conclusão de que não era eu que estava no lugar errado, com as pessoas erradas. Era eu o errado. As pessoas e os lugares são o que são. Eu que me sentia sobrando. Cansei de viver em um mundo que não sentia ser meu.
Fui a um evento do pessoal do trabalho. Tinha umas 20, 30 pessoas. Senti-me sozinho. Ninguém lá tinha nada a ver comigo. Ou melhor: eu não tinha nada a ver com ninguém. Falaram pra mim: é bom ir, por causa da política. Não sei se essa tal política é pra fazer bem às pessoas. Mas acho que não.
À noite ninguém falou, mas eu fui fazer a tal política. Casamento de gente do trabalho da patroa. A tal da política não foi legal comigo de novo. Eu não via a hora de a hora passar. Um negócio cheio dos rococós e eu nem sabia dar nó em gravata. Não conhecia quase ninguém. E os poucos que conheço me dão ojeriza. Aí resolvi beber. Mas nem o uísque era tão bom assim (e em casamento de ricos e 'pseudoricos' não tem cerveja). Fomos embora cedo e ainda levei bronca da patroa porque ela queria ficar, mas se irritou. Eu tava cansado.
No dia seguinte, acordei sozinho. Recebi um telefonema de alguém que diz que gosta de mim, mas que ultimamente não passa mais de dois minutos do meu lado.
Tentei esquecer isso vendo um jogo de futebol na TV. Meu time perdeu de novo.
No dia seguinte, fui para o trabalho. Cheguei lá. Passei o dia esperando o dia passar. Não dei uma risada. As pessoas não dão risadas lá.
Voltei para casa, um pouco cansado. Levei bronca porque cheguei tarde. Eu tinha passado duas horas no trânsito.
Tomei uma garrafa e meia de vinho. Subi bem alto na sacada do 18º andar. Resolvi que a última coisa que eu ia fazer era voar.”