lunes, julio 14, 2008

Primeiro Encontro

Escutava o tilintar dos talheres enquanto pensava que o garçom podia entender sua situação. Afinal ele estava ali, diante de uma mulher deslumbrante, que estava voltando do banheiro.

"Todas retocando a maquiagem e reclamando dos maridos/namorados. Banheiro feminino às vezes me enoja." "Mesmo. Nunca entrei em um", disse ele, com cara séria. "Adoro seu senso de humor", ela sorriu. "Que panaca", pensou o garçom, olhando-o com cara de desprezo.

Ele percebeu ser vigiado e isto é o que mais o incomodava. Não bastasse estar trêmulo de tanto nervosismo pelo primeiro encontro após oito anos casado e este cara ia ficar o tempo todo ao lado da mesa?

"A carta de vinhos, senhor." "Obrigado." Ficou tão tenso com aquele papel na mão, ("Carta? Isso aqui é uma folha."), que, no primeiro momento, pensou em dar para aquela bela morena escolher. Mas depois lembrou que as boas regras dizem que isso é função do homem. Tentou disfarçar que olhava o preço também. Fingiu entender de vinho, queria mesmo impressioná-la. Depois de tanto tempo, de um casamento infeliz, poderia recomeçar a vida com alguém. E não era só um alguém. Era realmente um mulherão. Inteligente, doce... e com umas pernas...

Em meio a tantos vinhos de R$ 80, achou um de R$ 46. "Este aqui", apontou pro garçom, tentando disfarçar a insegurança. "Ok, cavalheiro", respondeu prontamente o vigia-garçom, com cara de deboche. "Este é bom para comer com carnes vermelhas", apressou-se em justificar para Angélica, a morena estonteante. "Confio em você", respondeu, com um olhar lânguido que o deixou hipnotizado.

Demoraram mais um pouco a escolher os pratos. Os dois, claro, foram de carne vermelha. Logo chegou o vinho, branco. O garçom, com cara de vitória, diz: "Este vai bem com carnes brancas", senhor. "É um ótimo vinho." Neste momento, um vermelho de raiva tomou conta de Alfredo, que buscou contornar a situação. "Nossa, achei ter sido claro quando apontei no cardápio. Você deve ter se confundido para onde eu apontava o dedo." O garçom, sem graça, disse que traria novamente a carta de vinhos. Vitória pra Alfredo, que sorria discretamente, mas por dentro bradava "Chupa, seu maldito!"

Na volta, o dilema. Alfredo precisava saber um que combinava com carnes vermelhas e fosse barato. Não conseguiria escapar da segunda gafe. Após muito olhar, pediu. O garçom volta com um Lambrusco, espumante. "Este é ótimo para acompanhar aperitivos", cavalheiro.

Angélica, que até então sorria e apenas observava a tudo aquilo, perdeu a paciência. "Escuta aqui, seu garçonzinho de merda: nós vamos tomar este vinho mesmo. O que vamos beber e comer, é problema nosso. E depois deste jantar, eu vou pro motel com ele, vou dar pra ele. Então, você fique aqui com sua vidinha medíocre, este sorriso de bicha que queria ter nascido na França e este sarcasmo de mulher mal amada!"

O restaurante, fino, parou para olhar o espetáculo. Incomodada com a platéia, mudou de idéia. "Alfredo, vamos embora. Vamos comer um lanche na padaria mesmo!”

Ele, boquiaberto, vibrava. Acabara de encontrar a mulher da sua vida.

martes, julio 08, 2008

Uma conversa quase real

"Mandem pra mim as personalidades mais fashion da história do rock?
Olha a lista pra votar... x, y, z, j, h, u, v..."

E começam as trocas de email na redação:

A: "Ney Matogrosso"

B: "Se vocês colocarem que Ney Matogrosso é rock, eu pulo do 11º...Tinha que ser são-paulino pra falar isso, né? "

A: "Hahaha....Secos e Molhados é rock, pô."

C entra na conversa: "Você conhece Secos e Molhados? Você já viu o Ney Matogrosso ao vivo? Muito mais rock que você, seu... metaleiro. É a performance rock."

B: "“Performance rock” é ótimo. O som não conta? Então ta bom... qquer coisa é rock... Em tempo: não sou metaleiro, mas antes metaleiro do que fã de Ney Matogrosso....LONGE!"

C: "Vai ouvir o Ozzy cantando Staying Alive e depois vem falar comigo, Sr. Bom Gosto."

B: "Calma, calma... sem agressões... Ah, estas crianças da década de 80 que querem cagar regra sobre rock...quando você nasceu eu já ouvia rock, sua idiota!"

C: "Se você nasceu antes, vai morrer antes, azar seu... metaleiro!"

B: "Posso morrer antes, mas você com sua obesidade mórbida está bem mais perto disso, sua gorda mal comida!"

lunes, julio 07, 2008

"Queria morrer só um pouco..." *

Queria morrer só um pouco,

Pra ver se alivia este sufoco.

Sim, só um pouco mesmo,

Pois mesmo sabendo que a vida me cansa,

Ainda resta uma ponta de esperança.

Queria morrer só um pouco,

Pra ver se dou mais valor ao que tenho,

Aos detalhes que fazem a diferença,

Mesmo não tendo nenhuma crença.

Queria morrer só um pouco...


* Autor desconhecido

martes, julio 01, 2008

"Eu não bebo mais como eu bebia"

Acho que este blog é mais interessante quando simplesmente conta histórias para seus três leitores. Mas as mudanças na lei de trânsito com punições tão radicais para quem dirige após beber levantaram questões na minha vazia cabeça. Poderia até comemorar que arrumaram uma função social para os chatos que não bebem nada. Mas não consegui.

Concordo que os brasileiros são irresponsáveis e exageram na bebida antes de dirigir. Há acidentes graves, principalmente nas estradas. Mortes bestas ocorrem por pura irresponsabilidade de alguns. Mas quero destacar alguns pontos: a lei já punia quem ultrapassava o limite de uma lata de cerveja. Portanto, este limite já era baixo. Bastava fiscalizar direito. Eu nunca fui parado numa blitz. Nunca assoprei um bafômetro. Fiscalizassem direito, punissem a reincidência.

Ninguém toma um chope. As pessoas tomam três, quatro, cinco, seis... (eu e meus amigos bebemos 10, 12, mas não somos parâmetro). Quem toma três chopes em um happy hour e volta pra casa em seguida pode ter de pagar mais de 900 reais de multa. Pode até perder carro e carteira de habilitação. É assim que vamos resolver o problema?

Em tempo: eu dirijo há 11 anos e bebo há 15. NUNCA bati o carro após beber e nem alguém que bateu em mim parecia ter bebido antes. Temos problemas de trânsito? Sim. Muitas mortes? Sim. Então por que não mudam a lei - já alterada há 10 anos - e exigem que as pessoas que tiram habilitação APRENDAM a dirigir? Porque qualquer Zé da Esquina tira o documento e sai por aí fazendo barbaridade. Eles existem aos montes. Em todos os lugares. Só tem barbeiro no trânsito de São Paulo. E em outros lugares do Brasil é até pior. Por que não proíbem quem não enxerga direito de dirigir? E os velhinhos de 78 anos?

Por que estas pessoas conseguem habilitação? Porque o exame não é rigoroso, auto-escola não ensina ninguém a dirigir e ainda podem comprar a carteira no país da corrupção.

Por que não prendem os playboys que dirigem com 15, 16 anos? Por que não prendem os pais deles que dão/emprestam os carros? Ah, e quero ver se vai ter blitz todo fim de semana na Vila Olímpia pra pegar boy que passa a noite bebendo uísque ou vodca com energético.

Se a idéia é radicalizar, voltemos ao tempo da pedra em pleno século XXI. Sim, porque se é assim, ninguém mais trepa. Claro! Assim, ninguém pega Aids, gonorréia, sífilis... Ah, e acaba a gravidez indesejada também...Ou então costurem logo as mulheres. "Quanto você ganha?" "Um salário mínimo" "E sua mulher?" "É diarista." "Então costura, não pode ter filho." Ou coloquem um aviso sonoro com um detector de látex nas vaginas brasileiras: se um pênis sem preservativo se aproximar, ele dispara uma sirene ensurdecedora. E os dois pagam multa de 900 reais e vão presos. Onde já se viu tanta libertinagem?

Pra piorar ainda mais, os bares já acenam com a possibilidade de aumentar o preço das bebidas, já que menos gente vai beber. E as pessoas vão beber menos. Eles vão perder dinheiro. E não podem sair perdendo. Quer tomar um chope? Pague 10 reais por ele e pegue táxi na volta. (os táxis são baratos, né?) Sim, porque não temos transporte público decente à luz do dia, imagine de madrugada... Torre seu salário no bar, já que gosta de beber. Se beber cinco chopes: 50 reais + um lanche de 10, 15 reais... = 65 reais.... Mais uns 35 reais de táxi na volta (porque à noite é bandeira 2)... isso dá... 100 reais por uma mera saída.... Barato, né?

Aí eu pergunto: você sai do trabalho, toma quatro chopes com os amigos, come uma batata frita e volta pra casa. No caminho, é parado numa blitz. O policial te faz assoprar o bafômetro, que acusa porcentagem de álcool no seu sangue acima do limite permitido (claro, pois até bombom de licor e Listerine vão dar "positivo"). Multa de 900 reais. Mas aí o policial, que ganha um salário menor que o valor da multa, deixa nas entrelinhas que pode aliviar por 200 reais. Ele garante um quarto do salário em cinco minutos e você escapa do mal pior. O que você faz?

PS: "Eu não bebo mais como eu bebia" é música de Giancarlo Morelli, gravada pelo gênio Wander Wildner.