lunes, octubre 22, 2007

"Kurt Cobain - Sobre um Filho"

"Kurt Cobain - Sobre um Filho", que está em exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do diretor AJ Schnack, é uma edição de mais de 25 horas de entrevistas brutas em áudio do jornalista Michael Azzerrad com o ex-líder do Nirvana, de dezembro de 92 a março de 93, 13 meses antes de seu suicídio, em abril de 94. Antes do filme, este material deu origem ao livro "Come As You Are: The Story of Nirvana", de Azerrad.

Há poucas imagens do músico e da banda. O áudio é acompanhado por uma boa trilha sonora, que passeia pelos gostos de Kurt, que iam de Lead Belly a David Bowie, os dois retratados no Acústico que o Nirvana fez para a MTV em 93.(Lead Belly, embora não seja o autor, foi quem popularizou "Where Did You Sleep Last Night"). Destaque para a introdução com imagens aéreas, a melancólica e bonita "Overture" (De Steve Fisk e Benjamin Gibbard).

Para um fã, foi decepcionante. É fraco como filme. As imagens de Aberdeen, Olympia e Seatlle, redutos de Cobain (ele nasceu na primeira, a menor e mais caipira) ilustram suas declarações. Mas só o áudio importa. É um conteúdo muito interessante para tentar entender o que passava na cabeça daquele cara que pirou após receber o título de "músico que mudou a história do rock dos anos 90". Mas não traz grandes novidades, é verdade.

Entre as confissões e relatos, estão a complicada relação com os pais e a separação do casal, a adolescência em que apanhou na escola, a tentativa de ser 'geek' e se isolar do mundo, sua relação com os companheiros de banda, a amizade cúmplice com o baixista Chris Novoselic, a vontade de acabar com o Nirvana e tocar com outras pessoas. Também ressaltou sua sintonia musical e amor por Courtney Love, sua mulher, (acusada por alguns de tê-lo matado, embora isso pareça pura teoria da conspiração para vender livros e filmes) e o ódio pelos jornalistas, que o perseguiam após a fama. Sentia-se pressionado o tempo todo e estava de saco cheio disso.

O que há de mais marcante no filme é sentir que ele falava de sua banda, ainda no auge, no passado. Em algums momentos, é como se estivesse contando sua história já morto ou após ter largado a banda. A própria tragédia anunciada. Ele também diz, em uma das entrevistas, que já não pensava no suicídio, que aventara diversas vezes. E fazia planos para a filha, ainda recém-nascida.

Outro ponto interessante é: o total desprezo pela humanidade. Ele deixou claro que tentava se controlar porque sentia ódio e desprezo por todos que chegavam perto. As pessoas o irritavam e ele tentava disfarçar isso. Mas era tido como carrancudo. E talvez este seja um dos principais fatores para este cara ter feito músicas tão boas e que transformassem a vida de tanta gente: o desprezo por seus semelhantes. Ele bem que podia ter entrado em algum lugar público e matado umas 20 pessoas em vez de se matar. Mas aí ele seria apenas mais um psicopata norte-americano, não uma lenda do rock.

Saudades daquela fúria adolescente e daqueles acordes sujos e raivosos de guitarra.

miércoles, octubre 17, 2007

Silêncio

A maturidade vem com o passar dos anos. Não adianta exigir que exista logo de cara. Em muitos casos, nem o tempo é suficiente.

A capacidade de discernimento vem do meio em que a pessoa vive, da quantidade de informações que tem e de sua erudição para saber o que merece valor, o que não merece. Vem dos seus valores, de suas crenças.

Por isso muitas vezes os que pensam devem ficar em silêncio. Porque escrever a esmo, para matar a vontade ou dar uma opinião pode chocar e chatear os outros. A simples opinião de alguém pode ser um soco na cara de outro alguém.

Maturidade também é saber ficar em silêncio. Saber a hora de comentar, falar, opinar e a hora de ficar quieto. O silêncio muitas vezes é mais sábio do que belas palavras. Cabe a quem tem o dom ou o espaço da palavra saber a hora de calar.

Verborragia é um mal da sociedade. Portanto, um minuto de silêncio não faz mal a ninguém.

miércoles, octubre 10, 2007

Mocinho, bandido? Nada disso...

Não quero virar setorista do Roda Viva. Mas duas semanas depois, outra entrevista interessante: José Padilha, diretor de Tropa De Elite.
Não vou de novo dizer o que achei do filme, isso já foi falado aqui. Vou dizer que o grupo de entrevistadores exemplifica bem o que a crítica brasileira tem feito com a obra: análise superficial e ingênua.

Padilha teve argumentos para todas as perguntas, mostrou que conheceu traficantes e oficiais do Bope e recebeu até dicas para as cenas. Mas o melhor foi a alfinetada: para ele, a crítica brasileira está incomodada com um filme intenso, de ação, feito para pensar. Porque não está acostumada a obras nacionais deste tipo. Para o diretor, a imprensa daqui só entende franceses de narrativa morosa que convidam o espectador à reflexão. Daí um dos motivos de o acusarem de fazer um filme fascista, diz ele.

Bem articulado, Padilha teve que explicar sua obra. O que é, no mínimo, péssimo. É como ter que explicar uma piada, só que elevado a enésima potência. Obras de arte não se explicam, se interpretam. Melhor ainda se causar diferentes reações e interpretações. Mas, com boa vontade, falou o que está explícito no filme: o endeusado (pelo público) e criticado (pela imprensa) Capitão Nascimento é um cara em crise o tempo todo, com síndrome do pânico, que percebeu que sua escolha não foi feliz, pois não consegue ficar com a mulher e o filho e precisa sair do Bope. Mas vive um dilema, aquilo é a vida dele. Ele é torturador. Ele é manipulador. "Lembram da cena em que o Neto é enterrado e ele diz que pode usar o ódio causado no Matias pela perda do amigo? Como podem achar que ele é herói?"

Há quem ache que ele não foi profundo e não sabia onde queria chegar com o filme, como o amigo, jornalista e blogueiro Marcelo Costa. Mas o próprio Padilha explicou no Roda Viva: queria incitar o debate a respeito do que gera tanta violência: o tráfico de drogas. Ele diz ser a favor da descriminilização. Quis, com seu filme, apontar os produtos sociológicos que o tráfico criou, além da brutal violência e o alto número de mortes. Em que pé chegou o Rio de Janeiro para precisar de uma tropa como o Bope?, pergunta, lembrando que a tropa já nem é tão de elite assim, pois agora está com mais de 400 integrantes e deixou de ser aquela seita quase impossível de entrar.

O cineasta não acredita que a miséria por si só crie tanta violência. Citou outros países com índice de pobreza maior do que o do Brasil, mas com números consideravelmente inferiores no quesito crime. Para ele, há alguns agentes transformadores que, aliados à miséria, criam 'a guerra' em que vivemos. Um deles é usar a violência para combater a violência. Entrou até em discussões filosóficas e semânticas sobre o significado da palavra 'guerra', talvez para mostrar que está longe de ser ignorante, mas isso já não cabe aqui.

O diretor teve que dizer para os pensadores brasileiros que o principal personagem do filme não é Nascimento, mas André Matias. Teve que explicar que a película não é maniqueísta (começa com a frase do psicólogo Stanley Milgram, que diz que o indivíduo escolhe os caminhos que vai seguir pela circunstâncias em que se encontra.)

Mas o que Padilha esperava? Seu filme dá um tapa na cara da elite brasileira. A mesma que escreve e opina sobre sua obra. (até eu, para meus três leitores). Os formadores de opinião frequentaram faculdades cheias de playboys maconheiros ou foram um deles. Ou são um deles. E a imprensa (agora já não sei se me incluo ou não) tem a necessidade de arrumar rótulos pra tudo o que aparece e ela não consegue explicar em três palavras. Ou, só para citar um exemplo, alguém aí se esqueceu do fenômeno Nirvana no começo dos anos 90 e do rótulo grunge, que significa... absolutamente nada?

lunes, octubre 08, 2007

Me dê motivo

Dez motivos para casar com uma metaleira gorda de galeria:

- Ela não pede para abaixar o volume do som;

- Ela te acompanha em shows de rock, no mínimo sabe quem é a banda e pode até cantar junto;

- Ela sabe que não se vai a um show de rock arrumado. Quem passa perfume, se penteia ou passa maquiagem merece levar porrada numa roda de pogo qualquer;

-A relação sai mais barata, já que ela não quer jantar em lugares caros, não tem paladar pra vinho; CDs, DVDs e camisetas significam bons presentes;

- Ela odeia MPB, o Caetano, o Chico e o Gil;

- Ela abomina dance music e pagode;

- A chance de ela ir para um bar e pedir suco é quase nula;

- Ela não reclama que a casa está uma zona, porque ela contribui pra isso, espalhando CDs e encartes por todos os lados;

- Nem peão de obra mexe com ela na rua. Nunca vai te trair com seu melhor amigo. Afinal é uma baranga de camiseta preta, ele não quer;

- Ela não manda você parar de beber, pois enche a cara junto e acha que ficar bêbado é cool


Dez motivos para não casar com uma metaleira gorda de galeria

- Ela é gorda. Como dizia, sabiamente, um amigo meu: "Mina feia tudo bem. Mas mina gorda é foda!"

- Geralmente o cabelo é ruim, feio...

- Não sabe fritar um bife;

- Tem a sensualidade de um hipopótamo. Nem com Viagra dá pra encarar aquela coisa branquela que foge do sol;

- Acha que a discussão mais importante do mundo é se o último disco do Iron Maiden é comercial demais e defende as bandas posers; - na embalagem vem escrito: Conteúdo líquido: vazio;

- Pintas as unhas de cor escura. Das mãos e dos pés. Principalmente preto (argh!)

- Usa piercing no umbigo e blusinha pra exibir aquilo. Mas o que sobressai é a pança feia. Mas ela acha que está arrasando;

- Tenta ser descolada e fala um vocabulário chulo, mas acaba parecendo homem;

- Acha que o melhor programa da semana é ir aos sábados de manhã na galeria, ver aquele jardim zoológico lotado, e tomar Brahma quente naquele boteco do térreo em que os caras não lavam os copos;

- Você tem vergonha de levá-la no bar ou apresentar pra sua família. Além de correr o risco de ouvir ela arrotar no almoço de domingo

lunes, octubre 01, 2007

Seja bem-vindo...

Qual emprego não enche o saco depois de três meses? Difícil responder. Se não é depois de três meses, é depois de seis, oito... Difícil chegar a um ano.

Um dos tipos de emprego que acaba com a auto-estima do profissional é o que você não tem nada para fazer. Passei anos pedindo um destes. Quando consegui, o salário era mais ou menos e eu passava sete horas, em média, (das nove que ficava lá) navegando na web, porque não tinha o que fazer. Tentava arrumar trabalho, pedia para me darem mais coisa. Mas era simples. Não tinha o que fazer. A agência em questão precisava de mais designers. Cheguei à conclusão de que o cara que me contratou não sabia disso. Resultado: uma proposta de emprego mais ou menos interessante e eu saí depois de pouco mais de três meses.

Outro tipo de trabalho que desanima é quando você é contratado por uma pessoa, que te dá espaço, quer que você cresça. Há empatia desde a entrevista. Aí você se empolga, acha que vai crescer, tem muito a aprender, se doa... é reconhecido, enxerga um bom caminho pela frente. Aí vem uma decisão de cima, que nada tem a ver com o seu mundinho, e faz aquela pessoa não ser mais seu chefe. Novamente, você precisa se adaptar. Faz parte da vida corporativa. Aí você confirma então o que já sabia: a pessoa que assumiu o lugar do seu chefe não tem caráter. Falsa, usa vários discursos diferentes, dependendo de quem são os interlocutores. Para piorar, te coloca abaixo de zero porque odeia o antecessor, a pessoa que te trouxe. E, por tabela, te odeia também. Aí, você, depois de meses tentando provar sua competência e se adaptar, resolve procurar um lugar mais confortável do que a frigideira. Após algum tempo, com um pouco de sorte, consegue.

Mais um tipo ruim para a lista: o que você é contratado para gerir uma equipe que não foi montada por você. Faz de tudo para ser aceito, para agregar o grupo e fazer trabalharem bem, em um bom ambiente, mas eles foram mimados por outras pessoas e querem chupeta e mamadeira, não aceitam cobrança alguma. Depois de meses dando murro em ponta de faca, você acena com a possibilidade de demitir alguém. Mas não pode. Você é chefe da equipe, mas pra aguentar encheção de saco. Não tem autonomia para demitir ninguém, mesmo que as pessoas arrumem mais problemas do que soluções.

Tem também aquele em que você muda muito de função, sem ter pedido isso. Por mais que um profissional tenha que aceitar tais imposições, isso acaba cansando. Ainda mais quando muda três vezes em 100 dias de empresa. Você pesa os prós e contras e faz tudo para não se sentir um idiota. Mas percebe que esta missão será difícil. Uma parada indigesta, como adorava colocar o Vicentão nos textos de apresentações dos jogos. E agora? Procurar emprego de novo? Mas aí você olha seu currículo e percebe que passou por quatro lugares diferentes em um ano e meio. Pega mal. Como vai justificar? Não se adapta a lugar nenhum? Brigou em todos os lugares? Difícil explicar... e as férias? Essa porra toda de pinga-pinga de emprego faz você pensar que as últimas férias remuneradas foram há quase três anos. "Ah, então é por isso que acordo cansado todos os dias."

Mega-sena, prestar concurso, montar um negócio? Mas com que dinheiro? Montar o quê? E se der errado? Mas não seja covarde, seja empreendedor. Isso vale mesmo ou é só papinho pra vender a Você S.A? E as férias? Existe emprego satisfatório? Ou você é um vagabundo, um idiota, não sabe o que quer da vida? Mas tem que pagar condomínio, prestação da mesa, o conserto do aquecedor, e ainda tentar guardar dinheiro para viajar pra outro país, que você tanto quer conhecer?

Porra, mas você tem emprego e vive com conforto. Estudou num país de banguelas! E quanta gente não tem nem o que comer? Pare de reclamar de boca cheia! Mas se tudo isso é conseguido ao preço de dias longos e infelizes em um lugar ao qual não pertence? É falta de coragem de tomar uma atitude mais drástica e largar esta vidinha medíocre? Mas que atitude? Há solução para isso?