Dia de Fúria

A conta telefônica da minha casa veio R$ 585 no último mês. Só que quase R$ 500 foram gastos em ligações para celulares da região 013 (litoral paulista) em um prazo de cinco dias. Ninguém em casa ligou para tais números. Tudo bem que nenhum dos três tem tido muito senso ultimamente, mas há limites. Quem resolver comer caiçara aqui leva tiro.

No débito automático, a conta já havia sido paga. Liguei na Telefonica para reclamar na segunda-feira. Após explicar o que aconteceu, abriram um processo para "investigar" o que ocorreu. Anotei o número do protocolo. Dez dias para uma resposta. "Senhor, parte das ligações foram feitas usando a Embratel. O senhor tem que estar ligando lá." "Ligar lá? Mas a linha é da Telefonica. O problema é aí!" "Sim, senhor. Mas não podemos estar verificando uma cobrança feita por outra operadora." De saco cheio, desisti de discutir. Tá bom. Liguei na Embratel. Para meu espanto, o cara foi rápido e objetivo. "A empresa devolverá o dinheiro em cinco dias úteis. E vai analisar as ligações em um prazo de 90 dias. Se achar que a cobrança foi devida, entrará em contato para cobrar de novo." Espantoso. Ainda mais porque o cara nem falava no gerúndio...

Três dias depois, toca o telefone. "Senhor, aqui é da Telefonica. O senhor esteve abrindo um chamado, para que a empresa estivesse verificando sua linha, certo?" "Sim." "Então... foram verificadas todas as ligações feitas para celulares e não foi constatada nenhuma cobrança indevida." "Como não? Eu expliquei que são todas para a mesma região em um prazo de cinco dias e que ninguém aqui ligou para estes números. Se alguém mexeu no poste, clonou a linha, não sei, vocês precisam verificar." "Ah, aqui não explica isso. O chamado apenas pede que sejam verificadas as lligações para celulares. O senhor já esteve solicitando a presença de um técnico?" "Não." "Então eu vou estar solicitando para que o técnico vá até a sua rua e verifique a linha." "Por favor." "Tudo bem, então. A Telefonica agradece, tenha um bom dia."

Na mesma segunda-feira em que liguei para a empresa de telefonia fixa, peguei um carro reserva do seguro. Sete dias grátis até o pagamento da apólice (o carro foi roubado). Poderia ficar com o veículo até a outra segunda, mas a seguradora pagou o valor do carro antes do esperado (na quinta) e fui orientado pelo corretor a devolver o tal carro reserva. Afinal, não havia mais apólice e a seguradora poderia cobrar o aluguel depois.

Devolvi o carro no pátio da locadora, explicando o motivo para antecipar a entrega, e fui até o guichê (que fica do outro lado da avenida, dentro do aeroporto) resolver a burocracia da coisa. Lá, um casal não se entendia com a atendente, pois alguém fez uma reserva errada. Queriam uma Parati, mas a papelada dizia que seria uma Meriva, cujo aluguel é mais caro. Após esperar a anta do balcão resolver o problema daquele casal pela metade (eles saíram com o carro que não queriam, jurando cobrar a diferença da fulana que tinha feito a reserva errada), chegou a minha vez. Precisava da cópia do contrato que comprovava a devolução. Ela também ia cancelar uma pré-autorização de um débito no meu cartão de crédito, usado como caução (garantia para eles). Seria rápido. Eu já estava lá há mais de 20 minutos.

Então, ela me devolveu o contrato. E o que constava como data da entrega? 3 de outubro, segunda-feira, prazo em que eu teria de devolver o carro. Ou seja: era como se eu tivesse ficado com a porra do carro a semana inteira. Expliquei, de novo, que o devolvia porque o seguro já havia me dado o dinheiro. Não queria ser cobrado pelo aluguel depois. Ela jogou a culpa na anta que recebeu o veículo no pátio e fez uma outra notificação. "Já fechei o contrato. Depois alterarei. Pode ficar tranqüilo." O que deveria ter levado cinco minutos, demorou meia hora.

Tudo isso para dizer que este país não vai para frente porque está cheio de idiotas, gente despreparada e ladrões (os que governam, os que pagam salários, os que levam seu carro).

Dá vontade de ir embora para a Argentina vender "cubanitos" no farol. Porque, se pegar um taco de beisebol e sair quebrando tudo como o Michael Douglas, serei chamado de "indivíduo" por um analfabeto de farda e ainda terei de esperar para pagar a fiança na hora de ser solto, porque alguma anta vai trocar minha ficha com a de um estuprador nos arquivos.

Algumas certezas

Nos últimos dias tenho tido muito tempo para pensar e cheguei a algumas certezas (grande merda):

O José Dirceu é um filho da puta

Agora eu vou votar no PSOL (obrigado, Plínio Arruda Sampaio)

O Márcio não era técnico para o Corinthians

O Antônio Lopes também não é

O show do Slipknot vale cada centavo do ingresso

Internet é legal quando não trabalhamos "nela"

Passar uns dias sem ter nada para fazer pode ser muito interessante

Adiós

Escrevi este e-mail umas 20 vezes na minha cabeça. Óbvio, agora não sei o que dizer...

Tentando resumir, um ciclo da minha vida acabou. Quando entrei aqui, há pouco mais de quatro anos, ainda estava na faculdade. Trabalhei muito, acertei muito, errei muito, me irritei muito... mas por muito tempo tive prazer em trabalhar no então melhor site de esportes do Brasil, em uma equipe de profissionais dedicados, de muito caráter.
Gostaria de agradecê-los por aqueles "bons tempos", mas a maioria não está mais aqui. Fica um grande abraço pro Allen, guerreiro sobrevivente daquela época, ótimo companheiro de trabalho e também um amigo.
Quando vim para Diversão, em fevereiro, as energias já estavam no fim... consegui dar uma última carga, mas não durou muito.

Não tinha mais motivação para trabalhar em um lugar em que as pessoas só são reconhecidos se são mestres em demagogia. Trabalhar muito não deu futuro para ninguém aqui. Fica difícil ter vontade.
Mas tenho de agradecer. Afinal de contas, aprendi muito aqui dentro. E também conheci uma pessoa extremamente especial e importante para mim, a minha namorada.
Aqui fiz muitos amigos. Deixo poucos deles. Um abraço para os meus irmãos Fernão e Moikano. Um beijo especial para Aniella e Elaine. Estes quatro eu tenho certeza de que verei fora daqui. Não vou fazer mais citações porque posso esquecer de alguém. Boa sorte a todos que ficam em Diversão. Agradeço e deixo um abraço pros manos da arte, da multimídia, da tecnologia e da ilha de edição, que sempre ajudaram bastante no meu dia-a-dia.

Para encerrar, uma frase que ouvia bastante nas transmissões de uma rádio do RS (do tempo dos jogos ao vivo). Acho que define bem o que é o Terra:

"Boa tarde brasileiros, boa tarde gaúchos"

Polianas

Às vezes a vida nos coloca obstáculos e presta "desserviços" que realmente não precisamos. E enche o saco quem quer achar motivos ou conseqüências boas para as coisas ruins. Não sou assim. Não dá para sorrir quando catástrofes acontecem sem que tenhamos feito nada para isso.

Pior ainda é que sempre chega alguém com ar de superior para dizer: "Mas vc deveria ter feito assim..." Enche o saco. Catedráticos da vida alheia...vão para a puta que pariu.

Vivemos sem entender o sentido da vida. Sem saber por que estamos aqui, já que tudo vai acabar um dia. E sem saber porque a tragédia invade sua vida sem bater na porta.

2005, O Ano Que Não Acabou

O farol fecha. Atravesso a rua rapidamente. O asfalto está muito quente. Também, pudera... são 34 graus e o vento resolveu sumir.
Chego na praia, abarrotada de celulites. Muita barriga mole também está à mostra. Que visão! Mas tudo bem, é dezembro. Estou de folga. Não vou me estressar.

Acho um canto para sentar. Sempre achei que surfista bom é surfista morto, mas tenho de admitir que o barulho das ondas me faz bem neste momento. Até entendo porque eles amam o mar. Desligo o mecanismo para não ouvir o barulho humano. People=shit.

Uma lata de cerveja bem gelada custa R$2. O primeiro gole avisa: a felicidade pode durar uma fração de segundo. Então um filme passa na minha cabeça. É uma obra típica do Tarantino, pois não há seqüência cronológica. A única coisa que não conseguimos dominar é o pensamento.

Há um ano eu não estava aqui. Quase tudo está diferente. O mundo gira, mas nos últimos 12 meses foi um liqüidificador. A mistura é evidente: não sou mais o mesmo.

Fazia tempo que eu não conseguia olhar para ela e pensar: "tudo vai ficar bem". Eu sabia que o tempo era curto. Ela também já tinha avisado que estava de saída. Depois de uma longa tragédia, que durou anos, as cortinas se fecharam rapidamente encerrando o espetáculo. Queria ter conseguido aplaudir de pé, mas não consegui.

Isso já seria suficiente para desmoronar tudo, mas nos meses seguintes mais mudanças aconteceram. Algumas boas, outras ruins, algumas simplesmente mudanças.

2005 termina sem deixar nada no lugar. A retrospectiva passa rápido na mente de novo. Estou mais velho e mais rabugento. 2006 está chegando com mais mudanças. Não adianta temer, porque elas acontecem...mesmo que a gente não queira.

"Mais uma cerveja?"