sábado, marzo 03, 2007

A Farewell to Kings - Parte 3

Tentava explicar pra amiga que os homens eram mais espertos e leais na reunião masculina. "Por quê?", ela perguntou. "Porque nós sentamos na mesa do bar e falamos sobre as mulheres solteiras e as mulheres dos outros. Não das nossas. Ninguém pergunta pro amigo se a da mulher dele é rosada ou peluda. Se tem a teta vesga, etc... Vocês sempre perguntam o tamanho do pau alheio, se o atual é melhor de cama que o ex...E detalhe: vocês sempre minimizam os caras que estão com vocês, porque temem que a inveja da amiga acabe com a sua relação. Nós temos papos mais profundos, como listar as mulheres que gostaríamos de comer e que nunca comeremos. Listamos bundas sensacionais ou coisas do tipo. Tomamos copos de cerveja, nos divertimos... não invadimos o espaço do outro e respeitamos as relações."

A amiga não ficou muito contente com o que leu no MSN. Ele disse que tinha terminado o último texto que faltava e deu tchau. Seu braço doía demais, como sempre, quando desligou o computador.

Já eram quase 22h quando pegou o carro. No caminho de volta para casa, se perguntava se teria valido a pena tanto esforço. Tantas madrugadas trabalhando, tantos fins de semana, feriados... Perdera festas, churrascos, viagens, mulheres, trepadas, jogos de bola, não vira Kill Bill no cinema... quanto tempo perdido...

Perguntava-se o que tinha ganho. Uma tendinite que já travava até seu pescoço. Agulhas e relaxantes musculares não davam conta. "Preciso arrumar uma aposentadoria por invalidez", pensou, em um momento de extrema fraqueza.

Desiludido, já sabia que não poderia mudar o mundo. E que o pouco dinheiro que juntara tinha que gastar com acupuntura, shiatsu e terapia para tentar curar sua frustração. Bebia aos montes pras noites passarem rápido, mas não queria que os dias chegassem. Aliás, o dinheiro gasto com a bebida também não era pouco. "De que adiantou?", perguntou-se.

Agora estava dado a fumar. Os tubinhos cancerígenos davam uma sensação de prazer e calma momentânea. Estava em busca de pílulas de alegria, já que não conseguia uma vida de que se orgulhasse.

Todo o discurso de "nós nos divertimos mais do que vocês" para a amiga via MSN fora tão superficial quanto um funk carioca. Sentia-se velho e cheio de tudo. A fúria adolescente escorrera pelo ralo ao longo dos anos, com parte de seus cabelos. Este era mais um prêmio que ganhara pelos anos de dedicação e trabalho árduo: uma calvície.

Chegou em casa, xingando por ter de abrir o portão. Tudo o incomodava. Virou garrafas de cerveja olhando os péssimos filmes do Telecine. Estavam dublando o Al Pacino de novo! A cerveja descia como água há tempos. Procurou a arma que herdara do pai e estava empoeirada. Limpou-a um pouco, mas a flanela que pegou estava quase tão suja quanto a arma. Pegou uma bala que deveria estar com defeito e poderia “virar” festim. Lembrou-se de Crash. “Puta filme”. Deixou um bilhete sobre a mesa. Colocou a arma na boca e lembrou-se das recomendações. Virou pra cima. Seria mais rápido. A cena lembrava um filme de Tarantino. Deu adeus. Adeus aos reis da hipocrisia.