Muricy Ramalho é manchete de todos os jornais, apontado como o futuro técnico da Seleção Brasileira no lugar de Dunga. Há menos de dois meses, as roletas de apostas apontavam para Vanderlei Luxemburgo, que teria recebido telefonema de emissário da CBF, avisando que o convite viria em dezembro.
O fato é que os dois, tidos como os melhores do Brasil no momento (além de Felipão, que está fora), chegam ao final de 2008 em momentos totalmente opostos. Luxemburgo, sempre questionado por sua conduta fora de campo e pedidos de contratações, no mínimo, suspeitas, além das acusações de levar comissões nas compras e vendas de jogadores, tem suas capacidades ‘técnica e tática’ colocadas em xeque pela primeira vez. E com razão. Já Muricy, cuja corrente de elogios cresce a cada ano, começa a virar a grande unanimidade do momento. Ninguém tem coragem de falar mal dele e até seu jeito ranzinza e, muitas vezes, grosseiro, com os jornalistas, parece digno de perdão.
Vanderlei não consegue motivar e comandar seu grupo, que está dividido e cheio de igrejinhas. Grupo que ajudou a montar, com jogadores inexpressivos, cujas contratações levantam novas suspeitas. O episódio Marcos mostrou quão conturbado é o ambiente palmeirense (falta de comando, discussão pela imprensa). Dias antes, o estranho e ridículo episódio do jogo da Sul-Americana, em que o treinador surgiu como comentarista da TV Globo enquanto seus reservas apanhavam do Argentinos Juniors. Agora, para completar, a briga com a Mancha Verde, que chegou às vias de fato. (A desculpa que ele precisava para largar o contrato no meio outra vez e ir pro Santos ganhar um pouco mais). Há quem diga que ele caiu sozinho após bancar o machão. De qualquer forma, chamou os caras “pra porrada”, publicamente, no dia seguinte ao incidente no embarque para o Rio. Ridículo.
É realmente difícil acreditar que Luxemburgo ainda seja o preferido de Ricardo Teixeira, já que, para completar, até nó tático de Celso Roth (!!!) ele tomou recentemente. Indiscutivelmente ele é capaz, mas parece tão preocupado com os meandros, glamour e dinheiro que o futebol proporciona que esqueceu o principal: comando de grupo e um bom esquema tático.
Do outro lado vemos Muricy, que parece um caminhoneiro nas coletivas, ter toda a imprensa ao seu lado, com um lobby absurdo para que assuma o lugar do inexperiente laranja Dunga. Sim, pode ser que isso aconteça. E, se acontecer, será mais uma prova do poder da imprensa, que já foi consultada sobre a ida de Luxa pra seleção, em 98, e de Felipão, em 2001.
Teixeira não é bobo. Bancar Dunga e correr o risco de ficar de fora do Mundial (é difícil, mas possível) acabaria com o seu reinado de tantos anos na cúpula do futebol brasileiro. A mamata é muito boa para ele largar. Melhor colocar o treinador queridinho da imprensa no momento, que já provou sua competência, fazendo jogadores medianos renderem muito, com esquemas táticos sólidos.
Muricy, embora ranzinza, parece que nunca correrá o risco de ser picado pela mosca azul. Prepara o time de maneira aplicada até para jogos com o lanterna do campeonato. Faz um time jogar bem no 3-5-2, com todo o quinteto do meio-de-campo atuando na armação. E no Brasil, onde jogador é sabidamente indisciplinado taticamente. Conseguiu refazer o time apesar de saídas de jogadores importantes, como Mineiro, Cicinho, Brenno, Aloísio, Adriano, Danilo(?) nos últimos anos. E ainda faz Jorge Wagner parecer craque, Hugo cumprir seu papel no meio-de-campo, Borges virar goleador, Dagoberto ressurgir das cinzas e Hernanes ser cobiçado pelos principais times da Europa.
Qual a vantagem do São Paulo em relação aos outros times que brigam pela ponta do Brasileiro? Estrutura e Muricy Ramalho. E isso Teixeira já aprendeu. Parece que o lobby nacional vai dar certo. Até o presidente do São Paulo está ajudando.
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