Desconstruindo Mano Brown
Fiquei decepcionado com a entrevista de Mano Brown, líder dos Racionais MCs, no Roda Viva, da TV Cultura. O cara tem 20 anos de carreira e deu poucas entrevistas. Eu esperava mais dos entrevistadores.
O programa foi ao vivo e, no começo, todos pareciam tatear o outro lado. A elite branca, que era maioria na banca, tinha medo de fazer perguntas fortes, provocativas e levar uma invertida de Brown, sempre de cara fechada. Ele, tímido, e esperando porradas, era monossilábico.
Aos poucos, ele se soltou, deu risadas, disse palavrões e foi menos evasivo nas respostas. Porém, do outro lado, a maioria se concentrava em perguntas sociais e não conseguia extrair grandes coisas do músico.
Quem ficou mais à vontade foi Paulo Lins, naturalmente. O escritor é negro e tem 30 anos de favela, como ele mesmo disse. Brown olhava para ele com respeito, escutava atentamente, gostava das perguntas. Paulo Lima, editor da Trip, também fez perguntas interessantes, assim como a psicnalista Maria Rita Kehl, que embora pareça o estereótipo da classe média "Cansei", fez a lição de casa e estudou as letras da banda. Além disso, sabia estar diante de um artista, e não de um líder político.
Durante a maior parte do programa, a banca parecia querer arrancar frases de efeito de um líder social e revolucionário, que fez questão de ressaltar o tempo todo: "Não sou exemplo para ninguém."
Fugiu de respostas com "confesso que sou meio ignorante pra responder isso", e admitiu que estudou apenas até a 8ª série porque arrumou emprego e não se adaptou à escola no primeiro colegial, o que o levou a uma escolha pela vida profissional. Disse que canta porque precisa comer, que é ausente com os filhos e chegou a explicar a rima de uma música com um sorriso nos lábios: "Antes de tudo, é uma rima. A gente busca palavras que encaixem."
A exagerada humildade do rapper serviu pra deixar claro que ele não quer o peso de ser ícone ou líder de uma geração. Ele tentou ao máximo se livrar do rótulo, mas, no fundo, sabe que a periferia escuta o Racionais como mantra. Brown disse que dá opiniões como cidadão: elogiou Lula e diz que o país melhorou um grão de areia.
Da música, pouco se falou. Lamento os entrevistadores serem tão covardes e Mano Brown exagerar nas sandálias da humildade. Porque ele é exemplo, sim, para milhares de pobres brasileiros. E exemplo de um cara que deu certo, saiu da favela (admitiu também ser incoerente, pois prometeu, em música, não fazer isso, mas mudou de idéia), vive com dignidade, tem casa, carro... Se a molecada o vê admitindo ignorância, dizer que não ligou para o estudo, que lê pouco...pode ser ruim. Ele não é tão ignorante quanto diz, ele lê, sabe o que se passa no Brasil, além de conhecer a pobreza de perto.
Mas eu até entendo a posição dele. "Eu escuto um monte de artistas e não levaria a vida que eles levam. Marvin Gaye, por exemplo. Adoro Marvin Gaye, mas nunca viveria como ele viveu." Faz sentido.
Faz mais de cinco anos que os Racionais não lançam um disco. Teve DVD este ano, mas disco não. Quando vai sair o próximo? Não sei, ninguém perguntou. Qual a freqüência dos shows, qual a média dos cachês? Eles tocariam no Credicard Hall, que é perto do Capão, mas lugar pra rico? Onde ele mora agora? Ele tem carro de playboy? O filho dele estuda em escola particular? Ok, ele mal fala da família. Mas ninguém perguntou.
Afinal, estavam todos morrendo de medo do preto favelado cuja boca é uma metralhadora giratória. E ele ainda zombou: "Já vi vários caras levando porrada aqui. Hoje tá leve."
A pessoa mais dura com Brown em toda a entrevista foi ele próprio.
O programa foi ao vivo e, no começo, todos pareciam tatear o outro lado. A elite branca, que era maioria na banca, tinha medo de fazer perguntas fortes, provocativas e levar uma invertida de Brown, sempre de cara fechada. Ele, tímido, e esperando porradas, era monossilábico.
Aos poucos, ele se soltou, deu risadas, disse palavrões e foi menos evasivo nas respostas. Porém, do outro lado, a maioria se concentrava em perguntas sociais e não conseguia extrair grandes coisas do músico.
Quem ficou mais à vontade foi Paulo Lins, naturalmente. O escritor é negro e tem 30 anos de favela, como ele mesmo disse. Brown olhava para ele com respeito, escutava atentamente, gostava das perguntas. Paulo Lima, editor da Trip, também fez perguntas interessantes, assim como a psicnalista Maria Rita Kehl, que embora pareça o estereótipo da classe média "Cansei", fez a lição de casa e estudou as letras da banda. Além disso, sabia estar diante de um artista, e não de um líder político.
Durante a maior parte do programa, a banca parecia querer arrancar frases de efeito de um líder social e revolucionário, que fez questão de ressaltar o tempo todo: "Não sou exemplo para ninguém."
Fugiu de respostas com "confesso que sou meio ignorante pra responder isso", e admitiu que estudou apenas até a 8ª série porque arrumou emprego e não se adaptou à escola no primeiro colegial, o que o levou a uma escolha pela vida profissional. Disse que canta porque precisa comer, que é ausente com os filhos e chegou a explicar a rima de uma música com um sorriso nos lábios: "Antes de tudo, é uma rima. A gente busca palavras que encaixem."
A exagerada humildade do rapper serviu pra deixar claro que ele não quer o peso de ser ícone ou líder de uma geração. Ele tentou ao máximo se livrar do rótulo, mas, no fundo, sabe que a periferia escuta o Racionais como mantra. Brown disse que dá opiniões como cidadão: elogiou Lula e diz que o país melhorou um grão de areia.
Da música, pouco se falou. Lamento os entrevistadores serem tão covardes e Mano Brown exagerar nas sandálias da humildade. Porque ele é exemplo, sim, para milhares de pobres brasileiros. E exemplo de um cara que deu certo, saiu da favela (admitiu também ser incoerente, pois prometeu, em música, não fazer isso, mas mudou de idéia), vive com dignidade, tem casa, carro... Se a molecada o vê admitindo ignorância, dizer que não ligou para o estudo, que lê pouco...pode ser ruim. Ele não é tão ignorante quanto diz, ele lê, sabe o que se passa no Brasil, além de conhecer a pobreza de perto.
Mas eu até entendo a posição dele. "Eu escuto um monte de artistas e não levaria a vida que eles levam. Marvin Gaye, por exemplo. Adoro Marvin Gaye, mas nunca viveria como ele viveu." Faz sentido.
Faz mais de cinco anos que os Racionais não lançam um disco. Teve DVD este ano, mas disco não. Quando vai sair o próximo? Não sei, ninguém perguntou. Qual a freqüência dos shows, qual a média dos cachês? Eles tocariam no Credicard Hall, que é perto do Capão, mas lugar pra rico? Onde ele mora agora? Ele tem carro de playboy? O filho dele estuda em escola particular? Ok, ele mal fala da família. Mas ninguém perguntou.
Afinal, estavam todos morrendo de medo do preto favelado cuja boca é uma metralhadora giratória. E ele ainda zombou: "Já vi vários caras levando porrada aqui. Hoje tá leve."
A pessoa mais dura com Brown em toda a entrevista foi ele próprio.